segunda-feira, 28 de junho de 2010

Encantamento

Chamem-me de tudo,
menos de cego:
Não é por não ver que te amo.
Amo-te por fazer-me enxergar,
circundada por tantas galáxias:
Vênus:
Revestida de fogo e leveza
imarcescível facho dissonante depreendido de ti
paisagem de um município distante
no centro da Terra.

Não é com os olhos que te diviso
é com o sentido do universo
com as narinas impregnadas de sua visão ardente, insinuante
o caminho de meus dedos a tocar a área limítrofe
entre seu corpo e minha alma
região fronteiriça
emaranhando penhascos e abismos
junto a desejos suicidas.

Mas somos nós incólumes corações à vertiginosa queda
incautas razões por onde se perdem as causas
e se descobrem as inúmeras pagas
vaticinadas ao primeiro toque
ignoradas ao primeiro beijo
e reveladas ao inesperado desfecho:
Encantamento.

Sabemos, então, do que somos feitos:
Desejo.
Apercebemo-nos, então, do que nos foi tácito:
Deslumbramento.
E assistimos, incrédulos, ao nosso eterno martírio
de sermos incólumes corações
comandados por incautas razões.

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