segunda-feira, 21 de junho de 2010

Armistício

Não!
Por favor,hoje,não!
Ao menos um dia em toda vida
Quero ter o direito de dizer "não"
Deixem-me ser egoísta sem remorsos
Ser mesquinho e fútil
Controverso e falso
Ser essência,nem que seja uma vez
Para ser inteiro,uma única vez:

Que meus erros sejam apontados em cada esquina
Que minhas falhas estampem as fachadas
Que minha imagem seja devassada,manchada,obliterada
Que meus defeitos,meus incomensuráveis defeitos
Aticem,instiguem,alinhavem os ódios mal contidos,as desconfianças,as certezas escusas
E depois de todo mise-en-scéne habitual
Atirem-me ao olvido,à indiferença
Ao verdadeiro padecimento
Do solista sem aplausos
Da dama sem os lúbricos olhares
Do pobre sem os piedosos gestos.

Só quero dormir
Dormir um sono profundo de quase morte
(os sonhos,não me falem em sonhos!
a realidade já me é demasiado fantasiosa)
Dormir e acordar apenas no ponto final
Como quem viaja pelo mundo
À procura de casa

Querer a verdade
E, por ser verdade
Não haver consciência que lhe pese
Que nem a sós digo toda a verdade
Se há alguma a ser dita

Mas hoje,apenas hoje
Deixem-me ser o que sou
Sem sorrisos,sem cumprimentos
Somente casca,somente superfície
Oca e estéril essência
Única e possível forma.

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