Querem que eu diga o que se passa?
Não há razão para alarde:
Eu convalesço há anos
Na cama da indecisão.
Por certo não esperam que eu seja completamente avesso
Às convenções e modismos sociais:
É impossível caminhar sobre brasas
Sem ao menos sentir os pés chamuscarem.
Os outros,os da moda,
Penso que me veem com desprezo
E até faço gosto.
Caridade interessada tem braços curtos,
Mãos atarracadas nos bolsos falsos
Dos casacos de risca dos conspícuos homens envernizados.
Qual a minha opinião?
Só sei que ignoro a maior parte
Daquilo que presumo conhecer
E nímias são as dúvidas que me acometem
Frente à clareza do destino a se desencilhar por meus nós.
Senão,de que outra forma cometeria eu os mesmos erros?
Perdi as contas de quantas vezes mudei,
De quantas vezes fui o que era conveniente,
De quantas vezes fui frase-feita,
A resposta [in]sensata aprendida nos bancos de praça,
Nas autoajudas do portão da frente,
Nos balcões de botica de cidade pequena:
Mera força de expressão,
Cínica abnegação.
Querem realmente que eu diga o que se passa?
Tudo não passa de uma reles mentira,
Do início ao fim.
Eu adormeço há anos
Na cama da ilusão.
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