Prefiro a folha em branco, a carregar consigo a tez imaculada, a pureza da junção de todas as cores. Será, em tempo, deflorada por rabiscos incongruentes, desprovidos de técnica ou preparo, repetitivos e incessantes lamentos que somente ela, com sua alva paciência, não se cansa de escutar. Acolherá, em silêncio, os defeitos da gramática parca provinda dos profusos ditames do inconsciente inconsistente. Aparará, inexoravelmente, os excessos das linhas tortas que parecem querer transpor a ideia, teimando em não caber no seu tracejar invisível. E, finda a tortura, contemplar-se-á suja, gasta, usada, para, invariavelmente, ser amassada e atirada no lixo. Não importa. É possível que a retirem do cesto e a abram novamente. Já não será pura, imaculada. Terá sido devassada, corrompida. Não importa. Dela, nascerá flor, esperança. Dela, far-se-á inspiração.
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