quinta-feira, 8 de julho de 2010

Banquete

Deem-me uma dose de amor sóbrio, pois dessa vida, espero o ocaso, a fome, a sede e o ópio. Tenho me alimentado quase que exclusivamente no prato raso da sinceridade, inútil depositório neste mar de hipocrisia em que se habita. Devidamente municiado dos talheres da resignação, avanço [hesito] contra o inimigo, invisível a olhos alheios. Haverá luta? Minhas armas são exíguas ante a qualquer exército. Então para que lutar? No copo frágil da tolerância, tão afeito aos fortes, transborda o líquido insosso da incompreensão, guiado pela busca desnorteada, pelo prumo perdido em algum lugar da sala de estar. Sirvam-se do meu jantar. À mesa posta, o velho candelabro oscila por uma chama única, feixe rútilo que ansiosamente aguarda o porvir. Deem-me uma dose de amor sóbrio. No banquete da vida, o que urge é esperar pelo acaso, saciar a sede, a fome e entregar-se ao ócio.

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Um comentário:

  1. "Esperar pelo acaso", ótimo, enquanto isso pensamos no futuro incerto, melhor ainda. Confusões, aqui, confusões acolá.

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