sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Incompreender-se



Façamos de conta que, da simples ideia de ser,
subentenda-se a totalidade das coisas
que não podemos compreender.
Nessa falsa compreensão de tudo,
na vã tentativa de ocultarem-se as disparidades,
discrasias e imperfeições próprias e alheias,
anunciemos aos ventos, norte e sul,
o que buscamos e falhamos representar
com débeis palavras e escusados gestos.

Esforço néscio seria recompor-se,
desculpar-se, alterar-se a fim de transformar-se num certo um
que não se pode ser jamais,
sendo ele outro que não a si próprio.
E de mudar, de tornar-se algo que não a si mesmo,
sentir o medo, a raiva, a tristeza, a solidão
de não achar-se,
de, cada vez mais,
incompreender-se.

Ou, não saberemos nunca se é possível,
o "incompreender-se",
seja lá o que isso queira dizer realmente,
incompreender o mundo, a vida,
a morte, talvez esta mais facilmente,
faça emergir, enfim - jeito estranho de se pensar -,
puro e simples,
alinhavado pela totalidade das coisas,
o mito da compreensão, exato, inequívoco,
tal qual um deus que vemos e não ousamos tocar.

Ah, e quando isso acontecer,
façamos de conta de que nada sabíamos,
de que nos maravilhamos com o novo,
de que nos espantamos com o dúbio
e que as dúvidas, oh! quantas dúvidas...
estas nunca serão sanadas
mesmo apresentadas todas as respostas.
 
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