quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Bazófia

Não me venhas com tua física
Poupe-me de teu discurso exato
Das matemáticas inequívocas
Analíticas
Paralíticas
Da tua visão que atravessa os muros
Importa e instiga o ódio das nações
Insaciáveis
Irresolutas

A tua moral, a mim
De nada serve
Eu que não sei o que queres dizer
Quando falas de amor
Eu que não tenciono saber
O que pensas a respeito do amor

Levantas os braços aos céus
E cinges a Terra de virtudes
Os homens, de opróbrios
Como se não comungasse a carne
A ânsia, o câncer, a doença
A morte.

És cínico e pequeno
Posto que te sabes em mim
Mais do que imaginas;
Cantarolas, no tom que me exaspera,
A melodia da música divina
[E eu não a suporto];
Marchas com as mãos em riste
Beligerantemente frente às brigadas de fogo
Dos costumes contemporâneos

És amado e aclamado,
Benzido e engrandecido
E o que veem de mim
Que vou pelo lado oposto?
Apenas esse abafado clamor
Essa leviana acusação
Esse sopro de vida
Que não se sabe vivo
Esse sopro de nada
Que não se sabe vida.


.

5 comentários:

  1. Muito bom! Colocou com incrível sensibilidade sobre estar à deriva...

    ResponderExcluir
  2. Cinismo e mesquinharia, duas características muito fortes na maioria dos homens. Claro, que há classes de homens, em que essas características são muito mais evidentes... deputados, por exemplo.

    Muito bom seu poema, sensível e enfático, ao mesmo tempo.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom, mescla de sensibilidade, bom gosto e reflexão. Sensacional!

    ResponderExcluir
  4. Nossa dorei seu poema, bem reflexivo!

    ResponderExcluir