Eu fiz seu gosto:
um sorriso estampado no rosto
enquanto assistia à via crucis -
"Olha lá, é Jesus!" -
e no seu peito, a cruz:
seu nome era só o que eu via.
Eu desbastava as contas do vigário
ouvia a música, atento aos seus gestos
as mãos suavam no escapulário
alteando a voz a cada protesto -
"Presta atenção no que o padre vai dizer" -
e eu só tinha olhos pro seu nome.
Eu murmurava uma reza desconhecida
por você ensinada, toda agradecida
cheia de orgulho de menina crescida
a baixar os olhos ante a imagem -
"É tão bonita que parece miragem..." -
eu aquiescia e dizia mais uma vez seu nome.
Eu esperava o fim da procissão
aflito por saber da despedida
rendidos braços à oração
da felicidade compartida -
"Vá lá pedir sua bênção" -
e seu nome a redimir os meus pecados.
Eu quis seu gosto:
seu beijo marcando meu rosto
após a infinita via crucis -
"Lá se foi Jesus..." -
e nos seus lábios, fez-se jus:
repeti neles seu nome.
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