*Este post é algo diferente do que tenho feito por aqui. Tão mais natural que, vez em quando, as coisas saiam do comum.
As quatro canções que seguem
Separam-se de tudo o que eu penso,
Mentem a tudo o que eu sinto,
Mentem a tudo o que eu sinto,
São do contrário do que eu sou...
Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa - O Guardador de Rebanhos, XV
Especificamente, não há nada que se possa fazer no momento. As indas e vindas são naturais, são perfeitamente compreensíveis. Falamos das vicissitudes humanas e, contra essas, a filosofia oriental tem-nos banhado de conselhos e técnicas deveras eficazes, um tanto quanto árduas, que juramos de pé junto, e o ocidente se enche de superstições supérfluas, acatar com boa-fé. Certamente, sabemos pouco sobre nós mesmos. Em se tratando de sentimentos, aprendemos desde à tenra infância que o que nos é caro não sai barato, ou seja, sem desapontamentos, sem ofensas, sem brigas: permaneça próximo. Do contrário, não sei mais quem é você, creio não conhecê-lo mais, como você mudou! Decidimos quem são os que ficam, os que entram, quem sai ou quem nem devia ter entrado e desdizemos as palavras sinceras de ontem, as que, lindamente, escorreram pelos olhos em lágrimas de extrema comoção. "O que eu disse ontem não conta!" e assim nos enclausuramos uma vez mais na intrincada bolha das relações humanas. Esquecemos da matéria de que somos feitos, essa inconstante e disforme matéria que se molda a cada novo ato, a cada nova deliberada ou impensada atitude sobre nós dirigida. Nasceram mágoas e névoas passaram a fazer parte do seu caráter, meu caro! E a confiança é cristal que, partido, nunca mais reconstituir-se-á. Quão frágeis somos nós,não?! Soubéssemos da metade... Quanta palavra amarga tem se guardado, quanto gesto brusco tem se segurado não se sabe por que vias! E nós os primeiros a condenar um arroubo, uma reação instintiva que por instantes fugiu do controle. Respondemos às imprecações com facilidade (e com que prazer!), mas o elogio é tímido, envergonhado, ensimesmado. A palavra rude toma corpo, adquire dimensões gigantescas. Por sua vez, a afetuosa é estranha, carece de substância, de verdade. Predispomo-nos a receber a ofensa, enquanto o agrado sempre soa à bajulação, à caridade interessada. De fato, sabemos pouco, quase nada, de nós mesmos - menos ainda do que, ou de quem, nos rodeia.
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