sábado, 25 de agosto de 2012

Sujeito Indefinido em Primeira Pessoa

Se a névoa se esfuma,
que, outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
despetalar a lua!!
Federico García Lorca

Inexiste, em algum ponto do globo.
É todo ausência, todo vazio.
É oposto, posto que não tem lado.
Finge-se de morto, morte que assoma da janela.
Está, para o tempo, parado.
Móvel torpe do sistema solar.
Procura com as mãos.
Não vê.
Não sente. Sonha.

Desespera, vagamente. Vagamundo.
"Bom dia". Toda polidez do mundo.
Atado ao tratado das boas maneiras, sorri.
É, no magno palácio, palhaço.
Que abrace, que beije, não se contenta.
Que ame, que deseje, não experimenta.
Escreve, escreve, escreve.
Catárticos caóticos
casos caçados.
À luz da divina providência, despede.

Desdiz, desditoso.
Fala: mais fala, pouco escuta. Cicuta.
A víscera que substitui a vírgula.
A raiva que concentra a rima.
Que rima? Não há.
É, na magna carta, a cacofonia.
Vira caco de vidro. Despedaçado.
"Se minhas mãos pudessem despetalar..."
Mas não, não há!
Que fazer, então?

Descobrir, desdobrar, desnudar?
Insistir, instar, insensível ao padecimento?
Não, não cabe na palma, sobeja alma.
Faz o quê, por fim, se inexiste?
 

Desiste.

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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Abjuração

Nossas vozes se calaram repentinamente. 
Juntos, perdemos a fala, deixamos de lado o que, achávamos, era prescindível. 
Não era. 
Talvez fosse o que tínhamos de melhor.
E foi. 

Foi e não quer se repetir. 
Aprendemos a ser fortes. 
Isso, sabíamos, nos seria útil. 
Mas ter razão de nada nos serviria. 
Ter razão seria demasiado cruel. 
Para quem quer que seja, para quem quer que sirva de migalha. 
Abandonados, pediremos trocados nos sinais, 
faremos malabares com o que sobrou do sorriso, 
das lágrimas e dos futuros mais-que-perfeitos. 
Nos equilibraremos firmes sobre o tênue fio que nos separa do abismo, 
de olhos postos no indecifrável, 
ainda que a vertigem nos seduza.

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