segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Todas as Vozes


O que não deve ser dito em voz alta,
o que não deve ser dito.
As palavras impronunciáveis,
as preces incorruptíveis,
os lamentos ininteligíveis,
as verdades pela metade.
Que sejam esmagadas, que sejam destituídas de todo cerne, de todo motivo que as avive.
Eu não falo de silêncios,
eu não clamo a simples ausência,
o vazio de sons de agora até o princípio.
Eu não falo de silêncios.
Eu falo do que não pode ser ouvido,
do que não pode ser dito.
O oco, o mouco, o imperceptível.
O que não está na sintaxe, na ortografia, nos objetos, nos sinônimos, nos oximoros, nas antíteses, na língua de nossos antepassados.
 

O que não pode ser dito não será dito.

Todas as vozes que, aflitas, se escondem por detrás dos dentes.
Todas as vozes presas, engolfadas pela saliva rançosa do desprezo.
Todas as vozes que, sonhadas, já não servem mais.
Todas as vozes abandonadas.
Todas as vozes que nos chamam à razão: inúteis.
Todas as vozes que se calam
enquanto não me calo, enquanto insisto, enquanto resisto.

Meus olhos não querem as palavras,
meus ouvidos não querem os sentidos:
é pelas mãos que procuro a calma.

O que não deve dizer nada, o que não tem nada a dizer.

A voz do que foi esquecido por ora cala:

são elas todas as vozes da Alma.

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